O Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), que contabiliza o custo da cesta de consumo de famílias compostas principalmente por pessoas com idade superior a 60 anos, registrou alta de 2,26% no ano passado. O percentual é 0,20 ponto percentual superior ao índice medido para o país, que teve alta de 2,06% no acumulado do ano. Apesar da diferença em relação ao índice nacional, o IPC-3i registrou, em 2006, o menor valor desde a estabilidade econômica, verificada pela taxa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) desde 1995.

"O valor baixo é uma conseqüência da queda dos preços de alimentação (-0,32%) e de tarifa de eletricidade e telefone fixo (-1,53% e -1,66%, respectivamente)", explica André Braz, coordenador de IPC da FGV. Mas se os gastos com comida não perturbaram o orçamento familiar, as despesas com saúde e cuidados pessoais atrapalharam as contas. O grupo apresentou alta de 6,23% no ano passado. Gastos com plano e seguro saúde subiram 11,20% e foram os principais responsáveis pelo aumento. "Saúde tem um peso alto no orçamento da pessoa de terceira idade, mas isso mudaria completamente se o governo investisse o suficiente no serviço de saúde pública", afirma Braz.

Qualquer ajuda governamental para o sistema de saúde seria bem-vinda pelo casal Mirna Gladys, 62 anos, e Francisco Garcia, 70 anos. Da mirrada aposentadoria, gastam cerca de 25% com medicamentos, 30% com alimentação e, quase todo o restante, com a faculdade do filho. Não é à toa que o casal está com as contas de água, luz e telefone atrasadas. "Fazemos das tripas coração para conseguir nos manter", lamenta Garcia.

Consumo restrito

O fazendeiro aposentado Flamínio Souza, 72 anos, não passa as mesmas dificuldades que Garcia, mas vive com as contas apertadas. Para conseguir pagar tudo, ele se organiza. Anota despesas e receitas em um livro, paga todas as contas assim que chegam e economiza. Os gastos com saúde consomem 15% do orçamento. "Todas as consultas e exames que fazemos (ele e a esposa) são pagos pelo convênio médico", conta .

A presença de Souza e sua esposa em Brasília é uma opção, querem estar perto dos filhos e dos 13 netos e, para isso, adotam um estilo de vida modesto, com poucos luxos. A diversão fica por conta de receber a família em casa para um churrasco no fim de semana e de ver televisão, que há poucos meses passou a ter canais extras graças à assinatura do cabo. "Assisto a tudo que passa", revela Souza.

Mas mesmo com a contenção de gastos, a aposentadoria de um salário mínimo (R$ 350) e os trocados que, segundo ele, sobram da fazenda em Minas Gerais não seriam suficientes para manter o padrão de vida de Souza e a esposa na capital federal. "Só conseguimos nos manter em Brasília por conta da pensão que recebemos de um filho que perdemos, caso contrário eu estaria na roça, onde nasci", diz o aposentado, que se orgulha de não pedir ajuda aos familiares e de conseguir manter as contas da casa com o que recebe. "Pelo contrário, sempre que posso ajudo minha família", conta.

Apesar de a fazenda às vezes dar lucro, custa caro manter a propriedade. Além das despesas com o gado, funcionários e com a casa, pelo menos 15% do orçamento familiar são gastos com gasolina nas viagens ao campo.

De acordo com o índice medido pela FGV, os preços de transporte, que registraram alta de 6,23%, exerceram forte influência na manutenção da taxa. Os preços de ônibus urbanos foram os principais responsáveis pela subida do grupo e apresentaram variação de 10,71%. Essa categoria tem influência no índice porque os idosos passam a ter direito ao passe livre apenas a partir de 65 anos. Além disso, o IPC-3i leva em consideração os gastos familiares. Mesmo assim, o peso desse item no cálculo do índice para a terceira idade é menor que o usado para calcular o IPC nacional.

A diferença de pesos se dá porque o IPC-3i leva em consideração os hábitos dos idosos. Variações nos preços de alimentação, habitação, transporte, saúde e lazer afetam a população em geral. Mas o reflexo é diferente sobre os idosos. Muitos deles, por exemplo, saem menos de casa e, por isso, o preço de transportes têm menor influência. Os gastos com saúde, ao contrário, aumentam com o avanço da idade.

IPC fecha ano em 2,55%

O Índice de Preços ao Consumidor, calculado pela Fipe, deve subir de 0,30% a 0,50% em janeiro, e ficar mais próximo do teto da previsão feita pelo pesquisador da Fipe, Juarez Rizzieri. Se a projeção máxima de 0,50% for confirmada, o resultado de janeiro será idêntico ao do mesmo mês de 2006. "O índice de janeiro deve ser muito parecido com o de janeiro de 2006, até porque tivemos os mesmos procedimentos (reajustes)", afirmou.

A incógnita para o pesquisador quanto à inflação deste mês é o impacto do aumento do álcool combustível, que já vem sendo verificado nas bombas de gasolina (leia texto ao lado). De acordo com os cálculos de Rizzieri, sem contar com esta pressão, a inflação de janeiro já começa com um impacto de 0,22 ponto percentual.

A principal contribuição, segundo ele, deve vir do grupo educação, com aumento médio estimado de 6% nas mensalidades e matrículas escolares. Apenas esse reajuste deve significar 0,16 ponto percentual do índice, enquanto o de cursos pré-vestibulares, de 0,01 ponto percentual.

Rizzieri prevê que a inflação na capital paulista neste ano acumulará uma taxa de 3,5% em 2007. Ele não descartou, no entanto, a possibilidade de o IPC-Fipe fechar o ano um pouco mais elevado, perto de 3,7%. Essa diferença, de praticamente 1 ponto percentual sobre a inflação de 2006 (2,55%) deve-se a um conjunto de fatores.

Segundo ele, algumas commodities ainda devem apresentar elevações de preços em 2007, com destaque para o trigo, devido à demanda chinesa, e para o milho, em decorrência do uso do produto nos Estados Unidos para fazer combustíveis. O pesquisador da Fipe lembrou ainda que as tarifas de energia elétrica e telefone fixo devem apresentar alta de 2007. Em 2006, a conta de luz ficou 2,61% mais barata, enquanto a de telefone caiu 1,73%.

No ano passado, São Paulo teve a menor inflação dos últimos oito anos, medida pelo IPC da Fipe que registrou alta de 2,55%. A queda dos preços dos alimentos contribuiu para segurar o custo de vida. O grupo terminou 2006 com variação de apenas 0,06%, com destaque para a queda de 5,48% dos produtos in natura. A exceção foi o item alimentação fora de casa, com uma elevação de 6,49.

Correio Braziliense / Luciana Navarro

Fonte: Conasems 05/01/2007
http://www.conasems.org.br/mostraPagina.asp?codServico=11&codPagina=4856 (external link)