Roberto Hespanhol, 44 anos, alto executivo da Caixa Econômica Federal, pediu licença para lutar. Seu trabalho agora é vencer o câncer que maltrata seus pulmões há quatro meses. Já está na terceira batalha.
A primeira foi em setembro quando passou por um sofisticado procedimento cirúrgico chamado mediastinoscopia e descobriu que a doença já ultrapassara seus brônquios.
"A mediastinoscopia é uma espécie de viagem pelo sistema respiratório através de uma microcâmera. Com isso conseguimos ter uma idéia da extensão da lesão. Depois fazemos uma fibrobronscopia, vamos até os brônquios e retiramos pequenos gânglios para a realização de biópsia", explica o cirurgião torácico Manoel Ximenes Netto, nascido no Rio Grande do Norte, titular da Academia de Medicina de Brasília, 12 mil cirurgias nas mãos. Uma delas a de Roberto. "A doença dele está no começo. Tem bom prognóstico."
O câncer de pulmão é o mais freqüente no mundo e também o que mais mata. Quase 13% de todos os casos novos anuais da doença ocorrem no órgão que, segundo os orientais, representa a tristeza. O perfil brasileiro é parecido com o mundial. Aqui o câncer mais freqüente entre os homens é o de próstata, com 48 mil novos casos anuais. Os tumores mais fatais, no entanto, são os pulmonares.
Documento do Instituto Nacional do Câncer (Inca) após cinco anos enfrentando a enfermidade mostra que anualmente o Brasil tem 17 mil casos novos de tumores no pulmão entre homens e 9 mil entre mulheres, sendo que a taxa de mortalidade oscila entre 7% e 10%. É o tipo de câncer que mais mata os homens e o segundo que mais mata mulheres - perde apenas para o de mama.
A segunda batalha
Roberto Hespanhol não tem medo de morrer. Nem de viver. Quando o doutor lhe contou que antes de retirar o tumor precisaria passar por uma maratona de sessões de quimioterapia, Roberto não vacilou. Marcou as sessões, contou para os dois filhos adolescentes e começou o tratamento. "A quimioterapia é terrível. Meu cabelo caiu, tive enjôo, o fígado não agüentou, mas eu agüentei e semana que vem entro na faca de novo para tirar o tumor", conta o economista, morador do Lago Norte, em licença de seis meses para se dedicar ao tratamento. "Não vou me aposentar. Não sou um imprestável. Vou só me tratar", diz o homem, perfil exato das principais vítimas dos tumores pulmonares.
Ele fumou durante duas décadas - a primeira fase, dos 15 aos 26 anos, e a segunda, de 1993 até 2005. Roberto não desprezou apenas os alertas sobre os perigos do tabaco e sua enorme relação com o câncer de pulmão - 90% dos doentes fumaram em algum momento da vida. O economista também desprezou os riscos genéticos. Tem vários casos de câncer na família, o que, associado ao cigarro, multiplica as chances de adoecer. "Quando a gente é jovem, acredita que nada de ruim vai acontecer com o corpo da gente", diz.
Essa idéia de que são super-homens intocáveis pelo mal castiga o corpo masculino nas duas modalidade oncológicas mais comum entre eles - a de próstata e a pulmonar. O Distrito Federal tem a terceira maior taxa do país de mortalidade por câncer de próstata, com 132,55 mortes por 100 mil brasilienses, o que significa 30 pontos acima da média brasileira. "O mais triste é que o câncer de próstata é absolutamente previsível e tratável com exames preventivos periódicos. Se detectado a tempo, a perspectiva de cura é de até 90%", explica o director-geral do Inca, Luiz Antônio Santini. "O câncer é uma doença que tende a aumentar com o envelhecimento da população e por isso as medidas preventivas são tão importantes."
Prevenção em matéria de próstata é um assunto delicadíssimo num Brasil ainda marcado pelo machismo. "É muito constrangedor. Fico envergonhado. Prefiro esquecer esse exame", reconhece Paulo José Figueiredo, 68 anos, perfil preferido do câncer de próstata. Pela idade, pelos hábitos alimentares temperados com muita pimenta e nenhum acompanhamento médico. "Se as pessoas saudáveis soubessem como é dura a luta contra o câncer não fumavam, fariam os preventivos, ficariam menos estressadas. São apenas mudanças de seu terceiro duelo, a operação da semana que vem. "Vou vencer", garante Paulo José.
Câncer de próstata
Incidência
O câncer de próstata é a segunda causa de óbitos por câncer em homens, sendo superado apenas pelo de pulmão. O INCA prevê o registro de 47.280 casos novos no ano de 2006 em todo o Brasil. O câncer de próstata é sempre um dos três tipos de câncer mais freqüentes em todos os estados brasileiros.
Mortalidade
A mortalidade por câncer de próstata corresponde ao terceiro lugar entre as mortes por câncer, no Brasil. Estima-se em 4.100 mortes por ano.
Fatores de risco
A idade avançada é o principal. Possivelmente, dieta rica em gorduras tenha também uma certa importância. Homens com parentes de primeiro grau com a doença têm uma maior chance de desenvolvê-la também.
Sinais de alerta
Jato urinário fraco ou interrompido, durante a micção.
Necessidade de fazer força para urinar.
Micção de difícil controle (urgência).
Necessidade de urinar freqüentemente, inclusive de madrugada.
Dor pélvica.
Diagnóstico precoce
Todo homem com mais de 50 anos deve fazer exame de toque retal, em um médico especializado (urologista, preferencialmente), todo ano. Dosagem de psa (prostate-specific antigen) no sangue pode sinalizar anormalidades, também num estágio inicial.
Tratamento
Nos estágios iniciais, pode ser feita remoção total da próstata ou radioterapia, como alternativa. Contra doença metastática, pode-se fazer supressão hormonal, com drogas, ou orquiectomia (retirada dos testículos), com eficácia e efeitos colaterais semelhantes.
Nos casos refratários à hormonioterapia, há tratamentos para diminuição dos sintomas, como radioterapia em metástases dolorosas ou quimioterapia.
Sobrevivência
Em geral, a sobrevida em cinco anos é boa, chegando a 85%. Em estágios iniciais, a taxa aumenta para até 98%. Com a doença metastática, considera-se a doença é incurável, mas tratável, e a sobrevida em cinco anos chega a 30%, aproximadamente.
Atenção!
O câncer de próstata tem uma ótima evolução, se for detectado e tratado precocemente.
Câncer de pulmão
Incidência
O câncer de pulmão é o mais freqüente no mundo (12,3% de todos os casos) e também o que mais mata. O número de casos novos estimados para o Brasil em 2006 é 17.850 entre homens e 9.320 nas mulheres. Para o DF, 180.
Mortalidade
É a primeira causa de morte por câncer masculino e a segunda na mulher, no país.
Fatores de risco
Cigarro. É o principal fator de risco. Lesa células pulmonares, que podem se transformar em tumorais. O risco está ligado à idade de início do tabagismo, número de cigarros fumados e profundidade das tragadas. Deixa de fumar reduz drasticamente o risco.
Charutos e cachimbos. Aumentam risco de tumores.
Fumo ambiental. Exposição prolongada ao ar onde alguém fuma aumenta a chance de câncer em não fumantes (Prestem atenção nisso, papais fumantes!!).
Radônio. É um gás radioativo invisível, sem odor ou gosto, emitido naturalmente por solo e rochas. Trabalhadores de minas ficam mais expostos.
Asbestos ou amianto. São fibras minerais usadas por indústrias. Ao ser inaladas, as partículas se alojam nos pulmões. Lesam células e aumentam risco de câncer.
Sinais de alerta
Tosse persistente. Dor no peito constante. Escarro com sangue. Perda de fôlego, chiado ou rouquidão. Pneumonia ou bronquite recorrente. Inchaço na face e pescoço. Perda de apetite ou peso. Cansaço
# É importante o controle desses sinais com um pneumologista ou clínico geral.
Diagnóstico precoce
Apenas 20% dos casos são descobertos em fase inicial. Fumantes devem fazer uma radiografia de tórax por ano. Em caso de suspeita, o médico avalia antecedentes pessoais do paciente, histórico de fumo, exposição ambiental e ocupacional e antecedentes familiares. Para o diagnóstico a biópsia é necessária
Como se espalha
Metástases mais comuns são para o próprio pulmão, ossos, cérebro, fígado e supra-renais. Podem causar dificuldades respiratórias, dores ósseas, abdominais, de cabeça, fraqueza e confusão mental.
Estadiamento
Após o diagnóstico, avalia o estágio da doença.
Tratamento
Depende do tipo de tumor, tamanho, localização e estado geral do paciente. Cirurgia, radioterapia e quimioterapia podem ser associadas para controlar a doença.
ATENÇÃO
O cigarro é o grande responsável pelo câncer de pulmão. Pare de fumar !


Fonte: Correio Braziliense
19/01/2007 - Cidades