A xerostomia é causada pela radiação emitida nesse tipo de tratamento oncológico, que danifica as glândulas salivares, compromete o fluxo salivar e dá a sensação de boca seca. "Essa condição gera intenso desconforto e interfere no emocional e na qualidade de vida do paciente", afirma Braga. Sem a saliva, falar, mastigar e engolir torna-se mais difícil, e a boca fica desprotegida, podendo ocorrer infecções oportunistas, como cárie de rápida progressão e ardência bucal, entre outros efeitos secundários.

Existem diferentes métodos para solucionar tal problema, como a ingestão constante de água, a mastigação de balas ou chicletes sem açúcar para estimular as pequenas glândulas que sobreviveram à radiação. Há também o uso de substitutos de saliva ou drogas como a pilocarpina. "Apesar de trazerem resultados positivos, os tratamentos disponíveis são apenas paliativos e apresentam desvantagens como a curta duração, efeitos colaterais e alto custo, especialmente no caso dos medicamentos", alerta o pesquisador.

A acupuntura, ao contrário, é barata (cada agulha custa de R$0,10 a R$0,15 e são usadas de 10 a 20 unidades por sessão) e seus efeitos adversos são leves (como sonolência e pequenos hematomas) ou ausentes. "A possibilidade de sua aplicação surgiu do fato de já utilizá-la para outras enfermidades - como paralisia e falta de sensibilidade faciais, síndrome de ardência bucal - que também não respondem satisfatoriamente aos métodos de tratamento convencionais", conta Braga.

Avaliação
O tratamento foi realizado de forma padronizada, duas vezes por semana, por um período de 20 minutos cada sessão, num total de 12 a 16 sessões. Foi medida a quantidade de saliva produzida e avaliou-se a percepção do paciente em relação à secura da boca por meio de questionários sobre hábitos do dia-a-dia, sensação de desconforto e grau de severidade da doença.

Participaram do estudo 24 pessoas (8 mulheres e 16 homens), com idade entre 44 e 82 anos - faixa etária em que a incidência de cânceres de cabeça e pescoço é maior -, atendidas na Clínica de Semiologia e no Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (CAPE), ambos da FO, e também no Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Radioterapia do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC). Metade dos voluntários já apresentava xerostomia e formou o grupo curativo, que recebeu tratamento com acupuntura após o término da radioterapia. Seus dados, coletados antes de se iniciar o tratamento, compuseram o grupo controle - a base de comparação dos resultados. Os outros 12 pacientes formaram o grupo preventivo, que recebeu sessões de acupuntura antes e durante a radioterapia.

"Comparando-se o fluxo de saliva do grupo controle e do curativo, ou seja, antes e depois da acupuntura, houve um aumento de 142,2% na quantidade de saliva produzida e o paciente sentiu uma melhora de 192,4% nos sintomas", afirma o pesquisador. "O grupo preventivo, apesar de ter sofrido perda por conta da radioterapia, obteve salivação 498,2% melhor que o grupo controle. A percepção do paciente indicou que a redução do fluxo foi 209,8% menor". A ansiedade e os sintomas de depressão nos pacientes também foram diminuídos com o tratamento.

O pesquisador aponta que tanto o aumento do fluxo salivar como a redução dos sintomas foram estatisticamente significativos e o método preventivo alcançou resultados superiores ao curativo - que já é realizado com sucesso em outros países. "A acupuntura se mostrou eficaz e um importante método de tratamento da xerostomia, visto ter minimizado este efeito adverso severo, especialmente com o novo enfoque dado com o método preventivo, sugerindo a sua indicação nos centros oncológicos", conclui.

Mais informações:
Email: fbraga@usp.br com Fábio Braga
Pessoalmente: na Clínica Odontológica da FO, às segundas-feiras, das 8 às 10h30

Fonte: USPOnline 20/10/2006
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