Coceira nos olhos, vermelhidão e ardência. Sintomas comuns após o período de férias que podem ser resultado de uma infecção bem incômoda no retorno ao trabalho: a conjuntivite. "Com as férias e o Carnaval, aumenta o contato entre as pessoas, e as aglomerações são um fator de contágio", explica o oftalmologista Canrobert Oliveira, do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB). O calor, o uso coletivo de piscinas e até mesmo os shows musicais, facilitam a contaminação pela doença.
Conjuntivite é a inflamação da membrana conjuntiva, que reveste o globo ocular e as pálpebras. Por se tratar da parte externa dos olhos, a região está exposta ao ar e, conseqüentemente, às impurezas carregadas por ele. Quando as pessoas coçam ou esfregam o olho, abrem pequenas feridas e facilitam a entrada dos microorganismos que também ficam suspensos no ar, causando infecção.
A partir daí, os causadores da conjuntivite são passados de pessoa pra pessoa por espirros, tosse e conversas. "Quando falamos ou espirramos, gotículas microscópicas de água ficam suspensos no ar que sai da boca. Se estivermos contaminados, o ar fica infectado e, mesmo pela conversa, uma pessoa próxima pode ser contagiada" explica Canrobert Oliveira. Segundo o oftalmologistas, a conjuntivite pode ter três causas: vírus, bactéria e rickettsia, um microorganismo mais resistente por reunir propriedades dos outros dois.
Contágio
Além do contágio pelo ar, a conjuntivite também pode ser transmitida pelo uso de objetos. Por isso, a pessoa com a doença não deve compartilhar itens como toalha e travesseiro. As chances de contágio aumentam em lugares públicos como clubes e restaurantes, onde o número de usuários é maior durante as férias. Nesses lugares, além do uso coletivo de piscinas e banheiros, os alimentos ficam expostos ao ar e é impossível evitar a presença de pessoas contaminadas.
Juliene Estrela Ferreira, estudante de Direito, passou o Carnaval em casa. De repouso por causa da conjuntivite, ela ficou isolada para não transmitir o vírus. Sem saber como foi contaminada, a estudante se surpreendeu com a doença. "Na sexta meu olho estava embaçado e achei que tinha uma irritação. Fui ao médico e soube que era conjuntivite. No outro dia, mal conseguia abrir o olho", diz Juliene.
Raios solares
O verão entra também no time dos vilões. A exposição excessiva aos raios solares e os ventos, ressecam os olhos, diminuindo a circulação de anticorpos na lágrima. A areia úmida e o calor fazem das praias um ambiente favorável aos microorganismos, e as piscinas de águas termais também são meios de multiplicação de bactérias. "Uma quantidade muito grande de pessoas utiliza a mesma piscina de água quente e a água tem vasão muito pequena. Isso mantém as bactérias na piscina" explica o oftalmologista.
A conjuntivite se espalha com grande velocidade, muitas vezes ocasionando surtos locais nas casas de pacientes ou mesmo em escolas. Por isso, o cuidado deve continuar na volta às atividades cotidianas. Após as férias, o retorno ao trabalho trouxe surpresas a um escritório da Advocacia Geral da União. A sala onde trabalha o advogado Cristiano Maia foi acometida de um surto de conjuntivite.
"No começo, a gente achava que a irritação era causada por uma lâmpada nova na sala, que soltava um pouco de poeira", diz Cristiano. Após visitar o oftalmologista, ele descobriu estar com conjuntivite. Além dele, outros dois colegas tiveram a infecção, mas o seu caso foi o mais grave. "Me indicaram um tratamento sem remédio, mas o diagnóstico era errado. Tive febre por duas semanas, íngua, e só assim fui medicado corretamente", contou.

Evite a automedicação
A forma de tratar a conjuntivite varia de acordo com o caso. Infecções por bactérias podem requerer uso de colírios antibióticos, enquanto a conjuntivite virótica tem um tratamento à base de soro e água. Se tratada corretamente, a doença dura aproximadamente uma semana.
Apesar da conjuntivite ser comum, é necessário o diagnóstico e o acompanhamento médico. Sem esse cuidado, o paciente pode se arriscar ao optar por um tratamento caseiro ou pela automedicação. "Os colírios à base de corticóide se tornaram muito comuns no uso diário. Mas a cortisona é uma droga, e seu manejo deve ser reservado aos especialistas", diz o oftalmologista Canrobert Oliveira.
O uso indevido de colírios pode causar crises de glaucoma agudo, provocadas pela mudança de pressão intra-ocular. Já o uso de corticóide pode agravar a conjuntivite, pois causa baixa de resistividade no local e favorece a infecção.
O diagnóstico de um especialista poderia ter evitado problemas para Hull de la Fuente. A aposentada de 64 anos sentiu irritação no olho e começou a usar colírio. Entretanto, a infecção que deveria ter durado uma semana se prolongou por quatro meses. "Eu me medicava porque já tinha tido conjuntivite e estava tendo os mesmos sintomas", disse a aposentada.
Hull teve que levar um susto para ir ao médico. "Eu estava no trabalho e, de repente, não via mais nada, só vultos", conta. Após a cegueira temporária, que durou meia hora, a aposentada descobriu ter a síndrome do olho seco. Com produção baixa de lágrimas, de la Fuente agravou seu caso com o uso de colírios. "A pior coisa que poderia ter feito foi a automedicação", diz ela. Hoje, após cinco microcirurgias, ela ainda não consegue produzir lágrimas, e utiliza medicamentos para manter a umidade do olho.
Catarata cega 25 milhões no mundo
Estudo promovido pela Organização Mundial de Saúde aponta que cerca de 20 milhões de pessoas do mundo todo estajam cegas dos dois olhos por causa da catarata. A cada ano, pelo menos 25 milhões de olhos deixam de enxergar por conta da doença.
Atualmente, cerca de dez milhões de cirurgias de catarata são feitas ao ano, sendo 5.500 na América do Norte, quatro mil na Europa Ocidental, entre 500 e dois mil na América Latina e menos de 500 em países como África, China e demais países pobres da Ásia.
No Brasil, estima-se que pelo menos metade dos idosos sofra da doença, em que a lente do cristalino vai ficando opaca e esbranquiçada, diminuindo a visão da pessoa gradativamente, até ficar completamente cega.
"Apesar de o fator hereditariedade estar bastante relacionado com a causa da catarata, a doença vem aumentando e preocupando especialistas por outros motivos. É o caso daqueles que fazem uso de determinados medicamentos que aumentam o risco de complicações na visão, como cortisona e esteróides, pessoas que tomam sol inadvertidamente, ou, ainda, aqueles que ingerem muito sal na alimentação, fumam e consomem muito álcool", diz Renato Neves, médico oftalmologista e diretor da rede Eye Care, de São Paulo.
A catarata avança aos poucos. O portador pode sofrer alterações na visão durante meses ou anos sem se dar conta da gravidade da questão. Por isso, os especialistas são unânimes em orientar pessoas com mais de 40 anos a fazer exames de fundo de olho anualmente.
Segundo Neves, na fase inicial da doença, o paciente nota maior facilidade para enxergar de perto, que progride para uma maior sensibilidade à luz e, principalmente, aos reflexos e brilhos à noite, visão embaçada, sensação de que as cores estão desbotadas e mudanças na cor da pupila.
Quanto aos métodos de tratamento da doença, o médico é taxativo: "Não existe tratamento clínico. Os avanços da cirurgia de catarata foram tantos nos últimos anos, que o risco é mínimo, utilizando pequenas incisões que não necessitam de ponto. O lançamento mais revolucionário, entretanto, são as lentes intra-oculares que podem ser implantadas depois da cirurgia. Feitas de silicone, têm a função de ajustar a visão para perto ou para longe conforme a necessidade do momento".
Glaucoma
Segundo levantamento do setor de glaucoma do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mais de 900 mil pessoas sofrem de glaucoma, doença ocular sem cura e hereditária que leva à cegueira, mas que tem tratamento para manter qualidade de vida.
A chefe do setor de Glaucoma da Unifesp, médica Regina Cele Silveira, acredita que exames periódicos na população carente, nas empresas, escolas e até o exame reflexo vermelho nas maternidades poderiam evitar que milhares de pessoas ficassem cegas pelo glaucoma.


Fonte: Jornal de Brasília
01/03/2007 - Saúde