Com o uso freqüente e prolongado, os remédios conhecidos como ototóxicos causam lesões graves - algumas vezes irreversíveis - nas partes do ouvido humano responsáveis pela audição e pelo equilíbrio.
- A aspirina está entre os medicamentos ototóxicos mais comuns - alerta Andréa Pires de Mello, integrante do Comitê de Doenças Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia. - Seu consumo é exagerado, até para fins terapêuticos. Mas nenhuma droga é inofensiva.
Antibióticos da família dos aminoglicosídeos - como a estreptomicina usada no combate à tuberculose - antineoplásicos e antimaláricos completam a lista de risco. Embora nem sempre possam ser evitados, os remédios ototóxicos devem ser ingeridos com conhecimento médico para evitar problemas.
- Não podemos deixar de tratar a tuberculose ou infecções bacterianas - avalia Sandra Merry, presidente da Sociedade de Otorrinolaringologia do Estado do Rio de Janeiro. - A otoxicidade requer predisposição genética e não é muito comum.
Andréa conta que o ideal é que, antes do tratamento, sejam feitos exames para verificar se já existe alguma lesão que possa se agravar com o uso do remédio. Interrompido o uso da droga, o acompanhamento deve continuar por mais três meses.
Segundo a fonoaudióloga Isabela Gomes, remédios ototóxicos costumam ser vitais para prematuros e recém-nascidos.
- Os neonatos com baixo peso são muito expostos à infecções. Hoje, no Brasil, há inclusive uma lei que obriga a avaliação da audição de todos os bebês, sejam ou não de risco, para evitar piora do quadro no caso do uso de medicamentos ototóxicos - completa Andréa.
O dilema enfrentado pelos médicos é que, quando a lesão da cóclea - responsável por transmitir a vibração sonora no ouvido ao cérebro - acontece na infância traz problemas para a fala e para o aprendizado.
- A perda auditiva é irreversível, pois não conseguimos repor essas células, e o processamento do som sofre prejuízo - explica Isabela. - Perde-se a capacidade de perceber a própria voz e outros ruídos do ambiente.
A fonoaudióloga lembra que em adultos e idosos atingidos é comum que passem a falar mais alto e a pronunciar palavras de forma errada. Três em cada mil pessoas que tomam a medicação apresentam lesões.


Fonte: Jornal do Brasil
07/03/2007 - Ciência