As empresas sabem que um funcionário estressado produz menos e custa caro. Mas talvez não se soubesse que era tão caro: no Brasil, o custo do stress chegou a 3,5% do PIB , cerca de R$ 33 bilhões ao ano em tratamentos e perda de produtividade, segundo pesquisas da Isma-BR (International Stress Management Association). 'Estamos em um momento profissional competitivo. Os executivos ficam de 60 a 65 horas por semana disponíveis para a empresa, não cuidam da saúde e nem têm habilidade para relaxar', diz Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR. 'Além disso, aqui não há a cultura de prevenir stress, apenas de tratá-lo.'
Nos EUA, são US$ 300 bilhões anuais gastos com tratamento e prevenção. Na União Européia, são 320 bilhões.
Porém, uma das conseqüências mais sérias do stress no trabalho, segundo Ana Maria, é a síndrome do 'burn out'. 'É um stress crônico, com exaustão avassaladora e sensação de ineficácia', explica a presidente da associação. 'O grande perigo é que esses sintomas podem induzir ao suicídio.'
No fim do mês passado, o delegado sindical da Confederação Geral do Trabalho da França disse que 'não era possível fazer uma ligação direta entre suicídio e stress no trabalho', mas que casos ocorridos dentro de empresas eram emblemáticos. Ele se referia às três mortes ocorridas na Renault nos últimos meses. 'A pressão por resultados era grande.'
A Renault preferiu não comentar o ocorrido. Segundo a Isma, este não seria um problema exclusivo da empresa, mas algo possível de ocorrer em todas as indústrias com atividades repetitivas ou com funcionários expostos a pressões.
O Hospital Albert Einstein, em uma pesquisa, descobriu também que o stress diário faz com que a maioria dos executivos desenvolva sintomas físicos graves. Cerca de 70% dos executivos brasileiros estão acima do peso, 20% são hipertensos, mantêm consumo de álcool acima do recomendável e 50% tem alto nível de colesterol. A rede de academias Competition informa ter recebido recentemente mil alunos de empresas que tentavam amenizar estes problemas.
Nos Estados Unidos, cerca de 35% das companhias têm programas de prevenção de stress. No Brasil, o número está abaixo dos 5%. 'Há 10 anos, ninguém falava no assunto. Hoje, há um início de movimento', diz Eliana Audi, da Auster Consultoria, uma das responsáveis pela criação do Programa de Apoio Pessoal (PAP) do HSBC.
O PAP foi criado há três anos para dar apoio aos funcionários do banco e familiares na solução de problemas pessoais, em sigilo. 'Às vezes o stress do trabalho se junta a algum problema familiar, a uma doença, e o executivo não agüenta', diz Eliana. 'Nessa hora, ele liga para o PAP, um serviço 24horas que designará o melhor profissional para atendê-lo: psicólogo, assistente social, especialistas em educação.'
O programa já fez 64 mil atendimentos. A maioria, de pessoas entre 30 e 40 anos. 'É a faixa em que a responsabilidade no trabalho aumenta, os filhos tornam-se adolescentes e os pais estão idosos. A pressão vem de todos os lados', diz a consultora.
O executivo-sênior da área de recebíveis do banco, Mauro Barros, já ligou para o programa, mas não para resolver um problema pessoal. 'Percebi que um colega estava distante, com problemas de saúde, e seu trabalho não rendia.' Barros ligou para o programa pedindo auxílio, pois, caso algo não fosse feito, talvez ele tivesse de demitir o colega. 'Essa pessoa estava emocionalmente e fisicamente abalada. Em outros lugares, talvez ela fosse demitida e sua situação ficasse ainda pior. Aqui, ela foi afastada, está se tratando e vai voltar', diz.


Fonte: O Estado de S.Paulo
15/03/2007 - Economia