Correio Braziliense
17/09/2006
Revista do Correio
Problema de peso
Pesquisas científicas avançam no tratamento da obesidade. Vacina, eficaz em ratos, deverá ser desenvolvida para humanos

Candice Alcântara
Da equipe do Correio

Dois novos estudos podem ajudar a mudar os rumos de uma epidemia mundial: a obesidade. O marca-passo gástrico, já em teste no Brasil, reduz o apetite por meio de estímulos ao estômago que, traduzidos pelo cérebro, fornecem a sensação de saciedade. A segunda pesquisa diz respeito a uma vacina que combate o hormônio responsável pelo ganho de peso. Essa, no entanto, só teve eficácia comprovada em ratos. E falta um longo caminho até ser desenvolvida para humanos.
Independentemente da metodologia, os estudos são uma esperança de tratamento para uma doença considerada grave. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), um bilhão de pessoas estão acima do peso - 300 milhões são obesas. O número de gordinhos já ultrapassa o de desnutridos, que é de 800 milhões.
Um aparelho do tamanho de uma caixa de fósforo pode ser uma alternativa para o combate ao excesso de peso. Implantado na parede externa do estômago em uma cirurgia que dura em média uma hora, o marca-passo gástrico emite impulsos elétricos que contraem a musculatura do estômago. No cérebro, a mensagem é traduzida como se o órgão estivesse repleto de alimentos. Assim, o paciente estará satisfeito, mesmo comendo menos que o habitual.
Ideal para pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) de até 35 (veja tabela), o marca-passo gástrico possibilita a perda de 15% do peso total. Ou seja, para os obesos de grau mais elevado, o tratamento não é eficiente. De acordo com Luiz Fernando Córdova, cirurgião do aparelho digestivo e membro da sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, outro uso do aparelho é como um preparatório para a cirurgia bariátrica quando a capacidade cardíaca do paciente está afetada. Nessa situação, primeiro se aplica o marca-passo e, após a perda de alguns quilos e a estabilização do sistema circulatório, é feita a cirurgia de redução de estômago.
O tratamento está em fase final de teste, mas o custo é alto. O aparelho é comprado, em média, por US$ 10 mil. Para Córdova, ainda é difícil prever se o método será popularizado. "Não sei se o marca-passo será sucesso. Talvez se o preço da cirurgia baixar ou se tiver cobertura do plano de saúde. O tratamento ainda não foi aprovado pela Anvisa", explica.
Para a Suely Guimarães, coordenadora da equipe de psicologia do Programa de Pesquisa e Assistência à Obesidade do HUB, o problema do marca-passo gástrico vai além do alto custo. Como não altera o funcionamento do sistema digestivo, a capacidade alimentar continua a mesma. "O marca-passo pode até acabar com a fome, mas não com a vontade de comer", completa.
Vacina
No futuro, um método eficiente para acabar de vez com as brigas com a balança pode ser a vacina contra obesidade. Imagine comer o que quiser e manter a silhueta esguia. Bem, os cientistas ainda não desenvolveram a poção milagrosa, mas deram o primeiro passo. Pesquisadores japoneses e norte-americanos criaram uma vacina que reduz o ganho de peso nos ratos. Nos roedores, a vacina formou uma espécie de anticorpo capaz de combater a grelina, hormônio que atua no sistema que regula a ingestão de alimentos e o consumo de energia
"A ação do hormônio é aumentar o apetite e diminuir o gasto energético", explica a endocrinologista Maria de Fátima Gonzaga. Conseqüentemente, a vacina desacelera o ganho de peso e reduz a gordura acumulada. O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) animou o meio científico, mas já levantou dúvidas. Segundo Maria de Fátima, a grelina do rato tem diferenças estruturais em comparação à grelina humana, por isso, é imprudente afirmar que os resultados obtidos com o animal podem ser repetidos em humanos.
CALCULE
Índice de Massa Corporal (IMC) é relação de peso (em quilograma) sobre a altura (em metros) elevado ao quadrado. Tem a finalidade de classificar o estado nutricional da pessoa e avaliar o perfil antropométrico.
IMC = peso / (altura)²
Abaixo do peso - IMC menor que 19
Peso Normal - IMC entre 19 e 24,9
Sobrepeso - IMC entre 25 e 29,9
Obesidade Grau I - IMC entre 30 e 34,9
Obesidade Grau II - IMC entre 35 e 39,9
Obesidade Grau III - IMC acima de 40