O Estado de S.Paulo
20/09/2006
VIDA&
Plasma em estoque está perto do vencimento
País só terá capacidade de extrair produtos do sangue em 2010

Por lei, o plasma não pode ser jogado no lixo, por ser bem da Nação, um produto do sangue. 'Estamos no limite de armazenamento e preocupados com o que será feito com o material, principalmente os lotes mais antigos', diz Dante Langhi Júnior, diretor da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia.
Os primeiros lotes estão mesmo prestes a vencer. 'Estamos na data limite', afirma Eliana Cardoso Vieira, coordenadora de Política Nacional de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde. 'Isso tem tirado nosso sono. Mas queremos tomar todo cuidado para estabelecer as condições que deverá ter a fábrica escolhida para usar o nosso plasma.'
De acordo com Eliana, a expectativa do governo é que até o fim do mês o edital com as condições de segurança para fracionamento do plasma seja publicado. 'A partir do edital com as normas , a escolha da fábrica de hemoderivados deverá ser rápida.'
Talvez este cronograma seja otimista demais. 'O governo acaba de nos pedir a renovação do contrato para armazenar o plasma', diz George Crivoi, da diretoria de administração do Hemocentro de São Paulo. 'Ele dura seis meses e esta é a terceira vez que eles solicitam a renovação.'
PERDA DE QUALIDADE
O plasma tem validade de cinco anos. Mas, bem antes disso, já perde a qualidade. 'Muitos hemoderivados vão desaparecendo com o tempo. Depois de um ano, por exemplo, a quantidade de pelo menos quatro deles se torna insignificante', explica Rogério Bassit, hematologista da Fundação Pró-Sangue?, em São Paulo. 'Com um ano e bem acondicionado, passa a servir para a extração de albumina.'
A albumina, um dos poucos derivados estáveis do plasma, é uma proteína usada em casos graves de desnutrição ou de algumas doenças dos rins e do fígado. Entre os hemoderivados que perdem a validade estão os fatores 8 e 9, que representam cerca de 20% a 30% do plasma. O fator 8 é a proteína que falta aos portadores de hemofilia A, a mais grave. O 9, a que falta aos hemofílicos do tipo B. Cada hemofílico usa 30 unidades de fator 8 por ano.
Só em 2006, o País vai gastar R$ 244 milhões na importação de seis tipos de derivados. 'Cada unidade de fator 8 tirado do plasma estrangeiro custa cerca de US$ 0,40. Quando era extraído do plasma nacional, gastávamos US$ 0,26', conta Dalton Chamone, diretor da Pró-Sangue?.